Calvin e seus Amigos

Calvin e seus Amigos
O assunto merece uma atenção especial

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Memorial de Leitura


GESTAR II - Programa Gestão da Aprendizagem Escolar
Língua Portuguesa - 2009
Professora Formadora - Jaciene Lima Paulo
Professora Cursista - Eletice Gomes Belas
Nós estamos sempre nos marcando com grandes momentos da nossa vida. Desde a construção ainda sem forma, os nossos pais vão registrando, na memória ou noutros meios, os grandes acontecimentos que seguem, aos poucos e no seu tanto, delineando nossa história.
Me encontro hoje diante de uma tarefa prazerosa e ao mesmo tempo muito desafiadora: construir um memorial de leitura, desenhar os momentos nos quais a leitura foi inserida em minha vida e por quem, formatar e, se possível, visualizar marcos.
Para início de conversa, gostaria de lembrar com precisão de uma visita que recebemos do nosso tio Izaltino - o tio Loro. Tio Izaltino é daquele filho sonhador que ainda muito jovem, adolescente talvez, se desvinculou das origens nordestinas e se mudou, como tantos outros, com a cara e a coragem para São Paulo, onde mora a mais de 50 anos. Quando eu tinha entre 6 e 7 anos de idade ele veio à Bahia visitar a família, na sua bagagem trouxe de presente para cada sobrinha um livro. Eu ganhei o livro da Cinderela. Era um livro lindíssimo, colorido de encher os olhos, quando eu abria as páginas, os personagens se movimentavam no recorte artístico do livro. Me encantei sobremaneira e ler aquela história uma... duas... três... quantas vezes fosse preciso, era a melhor coisa que poderia fazer e dali eu descobrir que os livros têm beleza, encanto e movimento. Foi a chance que tive de construir um laço de amizade e cordialidade com os livros que já dura trinta anos.
A escola, a família e os amigos contribuiram parcialmente, mas a minha formação como leitora eu fui desenrolando meio que sozinha mesmo. Na adolescência lia Sabrina, Horóscopo, Atrevida e Capricho. Não havia direcionamento, nenhuma razão específica, era somente pela leitura. Ao ingressar no colégio conheci Maria do Carmo - a Carminha, professora de Português e ela começou a dar as primeiras interferências, porém não era nada inovador, acredito mesmo que a Escola não acolhia esse desejo no coração dos nossos professores, mas tive o privilégio de encontrar amigos e por meio deles eu conheci Sidney Sheldon, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e alguns outros que hoje fazem parte da minha estante. Minhas leituras forma se tansformando, ganhando maturidade e eu formando novos conceitos.
Tristemente lembro que fiz todo o Magistério sem nenhuma indicação de leitura por parte dos nossos professores, a chama ainda não estava acesa, a instituição escolar estava muito vinculada ao tradicionalismo dos livros didáticos, da aprendizagem contuidista e saí do Segundo Grau sem referência leitora.
Dez anos se passaram, tempo que fiquei fora do ambiente escolar no papel de estudante e atuando como professora, mas aqui também tive oportunidades maravilhosas de leitura na troca com colegas de trabalho, nos cursos de formação e aperfeiçoamento da prática pedagógica. Prosseguir construindo meu caráter leitor de maneira bem independente, buscando um livro ali, outro acolá, mas sempre com um companheiro de jornada, até o momento em que ingressei na Faculdade de Letras. Foi aqui que tive a grande conquista de compartilhar boas leituras com professores e amigos. Lembro-me com "saudade leitora" do professor de Literatura Brasileira, João Edson Rufino, com ele eu aprendi a ler entre linhas, agucei aquilo que o texto não revela, mas o leitor consegue perceber. Também não posso esquecer dos amigos Tatiane Macedo, Anderson Sampaio e Ricardo Patrese. As nossas viagens de 70 km até à Faculdade dentro de uma topique eram recheadas de livros, de discussões e conversas literárias e como foi e continua sendo gratificante compartilhar com cada um deles as indicações e as críticas de uma boa leitura.
A Faculdade me inseriu no ambiente de pesquisa, busca e análise observatória da leitura. Tenho uma facilidade considerável de visualizar cenários, definir as características físicas e psicológicas dos personagens - isso a partir do meu olhar leitor. É um processo longo, mas extremamente desafiador, com a prática nós ganhamos autonomia, responsabilidade e credibilidade.
Ao sair da Faculdade já me sentia pronta para tomar minhas próprias decisões e escolhas, com facilidade para me colocar na condição de leitora proficiente, sem medo de conduzir meus alunos a esse mundo, uma vez que possuía respaldo para tal. Parecia que nada mais faltava acontecer nesse universo fantástico, até que em 2005 fui convidada pela Secretaria Municipal de Educação para coordenar uma escola de fundamental II. Esse convite gerou minha participação no Projeto Chapada - uma proposta voltada ao ensino da Língua na formação de alunos e professores leitores. Como era bonito chegar à formação do Chapada e encontrar uma mesa disposta de indicações literárias, mais que isso, cada encontro havia um momento encantador de leitura em voz alta, leitura pelo formador, ler para estudar, para escrever, ler por prazer. Essa oportunidade suscitou em mim um aspecto crítico e investigador, sem contar que tínhamos a possibilidade de comprar livros maravilhosos com as portas abertas à livraria da cidade.
Há uma alegria incontestável em se tornar um ícone. Nada mais me alegra do que ver um aluno ou ex aluno nos procurando para pegar livros emprestados. Sou amante da língua materna e o ingresso ao mundo das letras me tornou uma profissional mais qualificada e uma leitora mais apreciada.
Em se tratando de Escola, não tive ricas experiências, mas a Faculdade e a Vida me presentearam grandemente; razão pela qual acredito que a capacidade de tornar o ato de ler um momento prazeroso é algo cuidadosamente pessoal, embora haja comprovação de que alguém possa interferir na decisão do outro.
Recentemente li "A fantástica fábrica de chocolate" indicada por Neyla, outro forte referencial nessa trilha deslumbrante. Amiga estimada, irmã na fé e agora companheira de Gestar II, que em se falando, não gostaria de encerrar meu relato sem fazer algumas considerações aos momentos de leitura que veem sido construídos na Formação do Gestar. Ler para estudar, ler para escrever, ler por prazer, eixos diferentes que se aglomeram num mesmo espaço e novos horizontes vão sendo descobertos, porque o que me atrai num livro não é o título, a espessura nem a estética. O que me atrai é a curiosidade e a vontade de descobrir o que tem em cada página, cada capítulo, o que a história vai acrescentar em mim.

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