Amores Certos, Destinos Opostos
“Nós temos histórias, segredos e medos. De nos perdermos um do outro o maior deles”.Assim começava aquele belo e antigo texto que há muito Roberto havia lhe escrito.
A cada linha que lia seus lindos olhos verdes lavavam seus rosto envelhecido com lágrimas de paixão e saudade.
“Nós, entretanto, gostamos da chuva, e palavras temos que inventamos para nós.” Ana voltava-se ao passado lembrando-se do lindo rosto de seu amado, moreno, com um sorriso encantador e olhos da cor da noite, sem imaginar que ele está sentado diante da escrivaninha de seu escritório, solitário, quando abre alguns arquivos do computador, e ao fazê-lo depara-se com a foto de uma ruiva, sorridente e feliz.
Após alguns minutos admirando a beleza de sua eterna amada, Roberto levanta-se e vai em direção ao, não reconhecendo a imagem refletida, está ficando velho, tem rugas e cabelos brancos, ao lembra-se de Ana seus olhos encheram-se d’água e em um suave piscar de olhos deixa uma lágrima rolar.
Ana sente frio, a chuva lá fora e o silêncio da casa vazia levaram-na a pensar onde estaria Roberto.
“Mundo que construímos para nós, temos, sem alicerces não visíveis, mas firme. Há um lugar em que plenamente vivemos, nos temos. De nós há uma parte maior que fica sempre em poder do outro, em secreto depósito, tal como protegido numerário suíço, que carregamos sem sentir peso.” “Há o que mutuamente sabemos que só nós sabemos sobre nós, que antes não sabíamos. Amigos, parceiros, amantes, namorados loucos, somos tudo.” Quanto mais lia o texto mais triste e só se sentia, pois esses versos de amor eram apenas palavras, que com o passar dos anos se perderam em sua vida e agora existiam somente em sua memória.
“Na rua andamos lado a lado levando os livros que escolhemos juntos, medindo cada passo para não nos abraçarmos, a vontade de enlaçar teu ombro, vontade de furtar um beijo. Rimos. Há uma mistura de realidade e sonho que já não mais distinguimos, e nem queremos. Há uma saudade que não passa, que ultrapassa tudo o que de razoável entendemos. Por conta disso inventamos o eterno abraço de quinze segundos, a efêmea fotografia no espelho, o beijo com a porta do carro aberta, o telefonema, o bilhete eletrônico, a troca de pequenas coisas, símbolos que nos identificam. Estradas que percorremos em comboio. As frases que extraímos dos livros. A nossa posterior avaliação de desempenho na qual analisamos os nossos sentimentos, sensação por sensação, cada contração das fibras, e nos descobrimos mais e mais. E nos surpreendemos mais e mais com a nossa imensa capacidade de amar antes duvidosa. De toma forma nos amamos, com cem por cento de risco de ser para sempre.”
Após terminar de ler ela dobra o papel e reconstitui a história do passado. Ana e Roberto se conheceram na faculdade. Na época ele tinha namorada e eles saíam as escondidas. O que mais doía em Ana era o fato de Roberto lhe dar esperanças e não ter atitude de se entregar a essa paixão. Encontros e mais encontros às escondidas, a imagem de um beijo roubado que de fato nunca houve. Como seria o beijo dele? Suave? Doce? Oh! Jamais saberá. Ela sempre dizia pra ele uma frase de José Saramago que havia lido em uma revista, “(...)as vidas não começam quando as pessoas nascem. Se assim fosse cada dia era um dia ganho, as vidas principiam mais tarde, quantas vezes tarde de mais, para não falar naquelas que, mal tendo começado já se acabaram.(...) Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?” ... Ana após um ano de faculdade teve que mudar de cidade com sua família, deixando Roberto para trás e totalmente livre dela. Assim quando ele se formou, casou-se com Daniela, que alguns anos depois engravidou e deu à luz a uma linda menina de olhos verdes como esmeraldas. Ele sem pensar duas vezes decidiu que o nome de sua primeira e única filha seria Ana.
Ele nunca imaginou que essa atitude lhe torturaria por toda a vida, pois quando sua filha completou 17 anos, (idade que tinha Ana quando se conheceram), Roberto bate o carro, em que estava com sua família, em um poste rodopiando na pista e caindo em uma ribanceira. Sua filha foi arremessada para fora do carro morrendo na hora, sua esposa ficou internada e morreu dias depois, ele foi o único sobrevivente saindo apenas com escoriações leves. Estava só no mundo e se sentiu novamente abandonado, pois as duas Anãs, os dois maiores amores de sua vida haviam lhe abandonado, uma por não ser totalmente correspondida no que sentia por ele e a outra por uma discussão com Daniela.
Ana casou-se logo que foi embora. Ela e Maycon foram felizes por muitos anos, tiveram um filho chamado Endzo. Logo que ele completou 20 anos de idade seu pai morreu de parada cardio – respiratória. Sua mãe ficou muito abalada com a morte do marido, mas tinha o filho ao seu lado. Endzo se formou em biotecnologia e após três anos de formado recebeu uma proposta de emprego na Inglaterra. Sua mãe o apoiou. Após dois anos morando fora do país, ele volta para se casar com Mary, uma inglesa que conheceu na casa de amigos em Londres. Depois do casamento ele voltou para Londres com a esposa pedindo que a mãe os acompanhasse, mas ela recusou-se a ir pois gostava do Brasil e queria ficar. Assim foi feito, ela permaneceu no país. Tempos depois, remexendo em diários e pastas antigas, encontrou a carta de Roberto. Após relembrar seu passado ela se acomodou no sofá e chorou até pegar no sono. No dia seguinte quando a empregada chegou para trabalhar, encontrou Ana morta abraçada junto a carta.
Roberto passou dia após dia pensando o que teria acontecido se tivesse ficado com Ana. O que seria de sua vida? Ainda estariam juntos? Nunca saberá e essas perguntas vai levar para o túmulo, pois não terá a oportunidade de reencontrar Ana para saber. E só lhe resta agora, as palavras escritas por ela em pequenos pedaços de papéis envelhecidos e molhados por suas lágrimas de tristeza e arependimento.